Nós carregamos nós no estômago que nunca se desatam, porque certas dores permanecem conosco como lembretes de que viver é, muitas vezes, sentir. Cicatrizes que, por mais que o tempo passe, continuam abertas, como portais para aquilo que nos formou — tanto nas nossas maiores quedas quanto nas nossas mais profundas alegrias. Algumas jamais fecham, e talvez nem precisem fechar. Elas são as marcas de que, apesar de tudo, sobrevivemos. Há lágrimas que não só queimam, mas nos purificam por dentro, limpando os cantos mais escuros da alma. E há sorrisos que se perdem, silenciosamente, como se nunca tivessem existido, mas que um dia iluminaram o caminho de alguém.
Beijos que nunca são dados, ficam presos nos nossos lábios, enquanto outros, sem saber, marcam o fim de uma história, de um ciclo, de uma era. Abraços que curam, que não apenas envolvem o corpo, mas que têm o poder de restaurar uma alma cansada, esgotada pela jornada da vida. São abraços que nos reconstroem aos poucos, remendando as partes que achávamos que estavam perdidas para sempre.
E então há pessoas que escolhem partir. Não por falta de amor, mas talvez porque suas jornadas as levaram a outros caminhos, e tudo o que nos resta é aprender a deixá-las ir. Há também aquelas que ficam, apesar das tempestades, das distâncias, das falhas — e a presença delas é um lembrete de que não estamos sozinhos. Algumas memórias são como fotografias desgastadas que desejamos esquecer, enquanto outras permanecem vivas, pulsando dentro de nós, como se cada momento pudesse ser revivido. Sensações que resistem ao tempo, como perfumes que, mesmo distantes, ainda conseguimos sentir. Tradições que jamais se quebram, laços que são eternos, mesmo quando o “para sempre” parece algo incerto e distante.
Músicas… ah, as músicas! Algumas carregam lágrimas, outras nos arrancam gargalhadas de surpresa. E há aquelas que nos transportam a lugares esquecidos, despertando lembranças adormecidas de pessoas e momentos que já não estão mais aqui. Dias bons nos abraçam, enquanto outros parecem insuportáveis, nos afundam. Mas ainda assim, seguimos em frente, porque a vida exige movimento. Mesmo quando cada passo parece pesado, a vida nos empurra para continuar.
No meio disso tudo, coexistem o ódio e a bondade. O mundo é feito de contrastes e, às vezes, encontramos luz nos lugares mais sombrios. E há sorrisos, aqueles sorrisos raros, capazes de transformar completamente nossa visão da vida. Amores que são belos, mesmo em sua fragilidade, e pequenos gestos, aqueles que, às vezes, parecem insignificantes, que têm o poder de nos salvar das tempestades internas.
A vida, apesar de sua complexidade, de suas durezas e de seus mistérios, é um presente. Ela é como uma página em branco que precisa ser escrita, com momentos de alegria, de dor, de superação. Não sabemos o que virá a seguir, mas podemos viver cada segundo como se fosse o último, porque, no fundo, a única certeza que temos é que ela está acontecendo agora. E isso, por si só, já é motivo suficiente para continuar.
Júnior Chisté, psicólogo, escritor e palestrante. Atende através de vídeo-chamadas, (49) 9 9987 9071.