O futebol está presente nos mais diversos espaços rurais e urbanos do país, gerando objetos marcantes na paisagem. Desde imponentes estádios nos grandes centros urbanos aos mais humildes campos em terrenos baldios na periferia, o esporte, também como um importante movimento cultural gera manifestações efêmeras na paisagem, como os campeonatos, suas festividades nos títulos. Sua presença, no entanto, também é verificada nos espaços de trabalho, como nas vilas operárias das serrarias, ou nas associações recreativas onde os campos, e os campeonatos destacavam-se como elemento de lazer e sociabilidade entre os trabalhadores e as famílias.

O futebol vem assumindo um maior destaque como um importante objeto de estudo dentro da história, sobretudo no campo cultural. Sua presença, no entanto, também está relacionada ao espaço, sendo um “vigoroso agente produtor de paisagens, tradições e identidades” (MASCARENHAS, 2005, p. 61).
Na história, foram realizadas pesquisas levantando estudos como Sevcenko (1994) e Rosa (2011, 2012). Além dessas obras analisou-se o esporte enquanto prática de lazer (RISSO, 2018) e o processo de formação das indústrias madeireiras no município de Palmas. A partir desse levantamento bibliográfico, partiu-se para a busca e análise de fontes que remetessem a prática de futebol nas serrarias, onde encontraram-se sobretudo imagens que remetem ao esporte enquanto elemento de 240 sociabilidade e lazer nas serrarias do município.

Esporte e paisagem
Entendendo a paisagem como sendo a materialização das ações humanas no espaço geográfico, esta é construída não somente com as relações com o trabalho, mas também com práticas culturais, dentre elas as de lazer e esportivas. Mascarenhas (1999, p. 04) destaca essa importância da seguinte maneira: Assim, percebe-se a produção de paisagens a partir dos esportes. Esse fato não pode ser desconsiderado, pois, além de despertar o interesse em diferentes grupos sociais, a partir do interesse nos esportes são geradas diferentes transformações na paisagem para atender aos interesses ligados a prática esportiva, que podem ser no entretenimento gerado pelo esporte ou nas atividades econômicas relacionadas à atividade esportiva, pode-se destacar a construção de quadras esportivas, a construção de estádios ou ginásios privados. […] “São estádios, ginásios, pistas diversas, enfim, um amplo conjunto de equipamentos fixos na paisagem e geralmente de grande porte físico, o que resulta em maior capacidade de permanência Serrarias e campos de futebol na paisagem Em Palmas as serrarias começam a atuar com maior presença na década de 1950, incentivadas pela abundância de espécies encontradas na Floresta Ombrófila Mista (FOM) e nos Campos, notadamente a araucária (Araucária angustifolia).
Empresas
Melhorias e aberturas de novas estradas, facilitando o escoamento da produção junto a maior tecnificação das serrarias, no beneficiamento, com amplo emprego de máquinas movidas a eletricidade e foram fundamentais para a instalação de diversas empresas no interior e na área urbana de Palmas. A paisagem característica das serrarias era constituída pelo próprio parque de produção, com amplos barracões, a chaminé, as pilhas de serragem e o pátio com a madeira serrada. E próxima, ou ao lado, as casas dos trabalhadores, em muitos casos de propriedade da empresa. Em consonância a existência desse cenário, a serraria traz consigo uma nova forma de viver em conviver. Se a serraria era um espaço de trabalho para os adultos, para as crianças, por exemplo, era um espaço de brincadeiras e diversão. Nas pilhas de serragem executavam saltos, rolavam ou faziam bolos de serragem, modelados com potes de margarina. Com as sobras de madeira montavam casinhas e usavam prego e martelo para confeccionar carrinhos. Também aconteciam brincadeiras como o esconde-esconde em meio às máquinas e as corridas entremeando as pilhas de madeira, que, na visão infantil, possuíam uma altura absurda. Nessa paisagem, dividida entre o trabalho e a vida cotidiana, outro elemento assumia uma importância especial nos momentos de folga: o futebol. Com estrutura e gramado ou apenas uma área relativamente plana, de chão batido e traves de madeira, o campo era um dos principais pontos de sociabilidade dos trabalhadores. Eram disputadas tanto partidas recreativas entre os trabalhadores quanto disputas em torneios e campeonatos, internos da empresa ou externos competindo também com empresas madeireiras da região. Nessas partidas, que assumiam papel de verdadeiras festas, com torcida, foguetes e demais festejos, os jogadores apresentavam-se uniformizados, e contavam com apoio técnico de um companheiro de trabalho. O treinamento ocorria depois do horário de trabalho, quando ainda suportavam o cansaço, ou, principalmente nos finais de semana.
Considerações finais
O futebol, portanto, além de elemento de entretenimento, de identificação e mesmo de integração entre famílias que acompanhavam os jogadores em partidas que poderiam ocorrer em municípios vizinhos, destaca-se também pelas transformações na paisagem para atender aos interesses ligados a essa prática. Essas poderiam ser vistas em elementos de curta duração, como um campeonato, uma partida ou uma comemoração, com carreatas e buzinas, ou fixos, como o campo no pátio da empresa ou nas associações recreativas, onde também poderiam estar a mostra os troféus e as fotografias equipes vencedoras das empresas.
Janete Chaves Carlin – Mestre em História pela Universidade Federal da Fronteira Sul janetec16@gmail.com
Marlon Brandt – Professor do curso de Geografia – Licenciatura, do Programa de Pós-graduação em História e do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul marlon.brandt@uffs.edu.br