No Século II, na Primeira Apologia a favor dos cristãos, São Justino, mártir, escreveu um magnífico texto sobre a celebração da Eucaristia, celebradas no chamado dia do Sol, no primeiro dia, o Domingo, quando os cristãos se reuniam num mesmo lugar, todos os que moravam nas cidades ou nos campos. Um dos textos mais belíssimos sobre a Eucaristia dos primeiros séculos, que faz uma apologia, uma defesa dos cristãos para o imperador pagão Antonino Pio, acusados de fazerem reuniões estranhas.
Vamos ao texto que está no 3º Domingo da Páscoa – Liturgia das Horas, Vol. II. A ninguém é permitido participar da Eucaristia, a não ser aquele que, admitindo como verdadeiros os nossos ensinamentos e tendo sido purificado pelo batismo para a remissão dos pecados e a regeneração, leve uma vida como Cristo ensinou. Não é pão ou vinho comum o que recebemos. Com efeito, do mesmo modo como Jesus Cristo, nosso Salvador, se fez homem pela Palavra de Deus e assumiu a carne e o sangue para a nossa salvação, também nos foi ensinado que o alimento sobre o qual foi pronunciada a ação de graças, com as mesmas palavras de Cristo e, depois de transformado, nutre nossa carne e nosso sangue, é a própria carne e o sangue de Jesus que se encarnou.
Os apóstolos, em suas memórias que chamamos evangelhos, transmitiram-nos a recomendação que Jesus lhes fizera. Tendo ele tomado o pão e dado graças, disse: “Fazei isto em memória de mim. Isto é o meu corpo” (Lc 22,19; Mc 14,22); e tomando igualmente o cálice e dando graças, disse: “Este é o meu sangue” (Mc 14,24), e os deu somente a eles. Desde então, nunca mais deixamos de recordar essas coisas entre nós. Como que possuímos, socorremos a todos os necessitados e estamos sempre unidos uns aos outros. E por todas as coisas com que nos alimentamos, bendizemos o Criador do universo, por seu Filho Jesus Cristo e pelo Espírito Santo.
Aos diáconos, cabe-lhes a tarefa de levar a Eucaristia aos ausentes
No chamado dia do sol, reúnem-se, em um mesmo lugar, todos os que moram nas cidades ou nos campos. Leem-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, na medida em que o tempo permite. Terminada a leitura, aquele que preside toma a palavra para aconselhar e exortar os presentes à imitação de tão sublimes ensinamentos.
Depois, levantamo-nos todos juntos e elevamos as nossas preces; como já dissemos acima, ao acabarmos de rezar, apresentam-se pão, vinho e água. Então, o que preside eleva ao céu, com todo o seu fervor, preces e ações de graças e o povo aclama: Amém. Em seguida, faz-se entre os presentes a distribuição e a partilha dos alimentos que foram eucaristizados, que são também enviados aos ausentes por meio dos diáconos. Os que possuem muitos bens dão livremente o que lhes agrada. O que se recolhe é colocado à disposição do que preside. Este socorre os órfãos, as viúvas e os que, por doença ou qualquer outro motivo se acham em dificuldade, bem como os prisioneiros e os hóspedes que chegam de viagem; numa palavra, ele assume o encargo de todos os necessitados.
Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo
Reunimo-nos todos os dias do Sol, não porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, criou o mundo, mas também porque neste mesmo dia Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos. Crucificaram-no na véspera do dia de Saturno (sábado); e no dia seguinte a este, ou seja, no dia do Sol, aparecendo aos seus apóstolos e discípulos, ensinou-lhes tudo o que também nós vos propusemos como digno de consideração”. Em síntese, a Eucaristia é o resumo e a súmula da nossa fé: A nossa maneira de pensar está de acordo com a Eucaristia: e, por sua vez, a Eucaristia confirma a nossa maneira de pensar, assim define o Catecismo da Igreja Católica (cf. n.1327). A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, isto é, da obra da salvação realizada pela vida, morte e ressurreição de Cristo, obra tornada presente pela ação litúrgica.
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão