Nesta semana, o inverno voltou com força em todo o Brasil, e como não poderia ser diferente, em Palmas, a Capital do Frio Paranaense, teve uma das mais baixas temperaturas do país. Para explicar toda essa dinâmica climática, a reportagem entrevistou o aposentado, Geraldo Jorge Barfknecht, que explicou várias questões sobre o inverno, aumento na temperatura, estações meteorológicas, etc.
JAFS – A temperatura verificada em Palmas, na terça-feira (13) foi uma das mais baixas do país?
Geraldo – Sim! Precisamos separar: há estações ditas “oficiais” e uma rede crescente mundial de estação chamadas de PWS, Estação Meteorológica Pessoal, tradução, que registram pincipalmente Temperaturas, Umidades Relativas do Ar, Pressão Barométrica, Precipitações liquidas, direção e velocidade dos ventos, etc. Infelizmente por ignorância pura, a maioria das mídias, blogs, centrais de notícias, etc., não divulgam essa, pois acreditam que apenas as ditas oficiais (no PR, SIMEPAR e INMET) sejam verdadeiras e obedeçam aos critérios da OMM-Organização Meteorológica Mundial, como a dos sensores térmicos estarem entre 1.5 a 2 m do nível do solo e descartam as que em muito maior número indicam os microclimas, pois em numa mesma área pequena, dependendo do relevo, é comum termos diferenças entre as medidas de 6 a 8 graus e até mais e há registro nos Campos de Palmas entre duas, uma dita oficial SIMEPAR e outra PWS (Fazenda Gottardi, já desativada, vendida a propriedade), num dia com mais de 16 graus de diferença no amanhecer, com quase 6 negativos e cerca de 11 graus na outra e afastadas cerca de 4 Km e com diferença de menos de 100 m de altitude.
Hoje, a RPC falou de uma PWS em Curitiba, a menor na área da capital, bairro Orleans e ignora todas as demais no PR, como faz o seu contratante que é a CLIMATEMPO, que não pode usar os dados do SIMEPAR, apenas do INMET e por estupidez científica, ignoram as demais, padrões também, pois quem as instala tem preocupação fundamental nisso.
No domingo, (11) Dia dos Pais, Palmas teve nos Campos do Horizonte/Agrodala, estação Davis (a mais usada e de alto padrão no planeta) a mínima absoluta de -5.4 graus ,que foi a menor temperatura na Região Sul e a terceira do Brasil (perdendo para estações de montanhas acima de 1600 ou 2400 m de altitude) e a segunda menor foi na Terra do Gelo em Bom Jardim da Serra com -5.1 graus, outra PWS numa imensa depressão pelo sistema do rio das Pelotas/Uruguai no que é a cidade mais fria do BR, Bom Jardim da Serra e não a amada Urupema, como indicam os valores por nós anotados todo os meses nos últimos anos.
No ano de 2023 (desde fins de maio) até agora, temos mais de dez dias que fomos (as duas Rocio e Soledade/Agrodala) as menores temperaturas da Região Sul e também várias vezes as menores do país. Foram registradas por nós.
Dia 13 de AGO de 2024: Ranking das mais baixas no Brasil:
Fomos a quarta (sendo a diferença entre elas de apenas 0.9 grau (7.5 – 6.6) e um local perto de qualquer uma pode mostrar isso) e a oitava no Rocio, 1.6 grau mais “quente” que a primeira (7.5 -5.9) no Jardim da Serra (pois não precisava, não há um Mau…).
São Joaquim tem mais de 30 estações. Palmas: 5! (SIMEPAR: 2, IAPAR: 1, PWS 2, sendo que apenas nesses duas pessoais é possível ter acesso em quaisquer tempos 24 h, em qualquer meio com internet, para qualquer dia, mês, ano, horário, desde o início de sua operação, como resumos mensais, semanais, dados de cada medição a cada 5 ou 15 min., conforme a programação seja graficamente ou pelos números.
Uma estação assim custa em torno de 700 R$, mais despesas com a rede, cabo se precisar, um suporte, etc. de Padrão maior Davis 600 a 900 Dólares.
SOLEDADE/AGRODALA/HORIZONTE:
Bairro ROCIO/Palmas/PR:
Mude a configuração de F para Celsius, acima, lado direito:
Medidas agora ás 14:15 H: Temperatura média no dia: 2.2 graus (até o horário e vai ficar menor) AGRODALA/HORIZONTE 1276 m
ROCIO 1018 m que ficou negativa até perto das 09 H (Temperatura Média até o horário, 14:15 h: 1.9 graus!!!!):
JAFS – Sobre as estações meteorológicas do município, porque algumas atestam temperaturas diferentes?
Geraldo – Se tivermos 10 estações em uma região, dependendo do relevo, altitude, posição, latitude, longitude, proximidades de massas de água, matas, lado da encosta, topo ou baixios, etc. teremos 10 diferentes temperaturas, com diferenças nas mínimas absolutas que chegam facilmente a 6, 8 até mais de 10 graus entre elas. Pode ter geada severa nas baixadas e temperaturas agradáveis nos topos e insisto, tenho registro de duas entre si e de 4 Km, cerca de 80 m apenas de diferença de altitude e na mesma manhã, mostraram diferença de mais de 16 graus e nenhuma estava danificada.
O princípio é simples: a maioria das estações, cidades na Região Sul, não estão num relevo plano, numa chapa e assim pouca diferença terá em diversas estações na região. O relevo faz a diferença principal. O ar frio é mais denso e nenhuma vaca vai dormir numa baixada num dia como hoje, geada severa, e vai entrar nas matas e se não tiver chance, vai dormir o mais alto possível pois sabe das diferenças e quem é agricultor tem danos severos nas depressões, vales, fundos, perto dos banhados, exceto nas passagens das frentes frias, que inicialmente os topos são os mais frios, como acontece com frequência na estação do Horizonte (SIMEPAR) com 1340 m a mais alta do PR e propicia a neve, e que já verificamos em cerca de 20 Km entre elas, num mesmo dia diferenças superiores a 12 graus. Assim pense sempre: a mínima em Palmas ou em qualquer outra, é apenas para aquela estação, não para a cidade (Palmas vai de 1145 m a 900 m) e muito menos para o município (900-1365 m).
JAFS- O porque nos últimos anos é verificado um inverno mais ameno em Palmas?
Geraldo – Não apenas em Palmas, mas em todo o planeta, praticamente em todos os locais. O clima terrestre naturalmente, há milhões de anos, oscila, não muda pois nada é constante, sofre/sofreu com Oscilações Climáticas com Eras Glaciais, atividades vulcânicas, intensidade ou ciclos solares, intensidades de fenômenos como La Níña, El Niño, etc. mudanças das corrente oceânicas e desde a Revolução Industrial no século XIX, o Homem tem contribuído para um mundo cada vez mais quente, de eventos mais severos ou extremos, de mais secas, de mais enxurradas, de maiores implicações sociais econômicas e culturais. Basta ver os eventos como em maio e junho no RS e outros que certamente virão e a natureza não é a culpada, mas vítima maior e nós humanos, temos dados uma ajuda substancial em levar a natureza a um estágio de difícil volta, se já não estamos e cientificamente falando e achamos que nada irá acontecer com esse misero detalhe que somos, como (pseudo) humanidade, levando a uma extinção extrema e sempre insaciáveis, queremos mais, produzir mais e as custas, quem se importa?
A década de 1950 em Palmas e em grande parte da Região Sul foram mais quentes e na de 1960, a mais quente e a mais fria (tivemos quase -9 graus e 38.8 graus na cidade de Palmas, maior que muitas dos registros das capitais do NE do Brasil até hoje) e desde a década de 1990, cada ano é mais quente em todas as regiões do Planeta na Temperatura Média Global (pouco acima de 15.5 graus há poucos anos e já estamos um grau acima aproximadamente), adverso para todas as regiões do planeta e a cada mês batemos o recorde do mês mais quente da história, desde quando começamos as medidas nos anos 1800. É comum o inverno ser cada vez ser mais ameno, seco e curto e apresentar alguns meses com extremos. Há algumas décadas produzimos frutas em Palmas (abacate, banana e outras) que eram impensadas até os anos 1990 e antes muitos do cítricos plantados em Palmas, não vingavam ou produziam fruto era dinheiro jogado fora, queimados literalmente pelas geadas.
JAFS – Comparando-se com os primeiros registros do inverno com o que se tem na atualidade, houve aumento na temperatura de Palmas?
Geraldo – Sim. Entre 1930-1960 a temperatura média anual no INMET atrás do Colégio Carlos 1090m, topo, era de 15.6 graus. Por falha nossa perdemos a estação do INMET nos início dos anos 1970, mas dados combinados de 1960-1990 (dados 1961-1973 INMET e 1978-1990 IAPAR, mas locais distintos ) já estávamos com 16.5 graus e no Ciclo de 1990-2020 (não tenho dos dados (SIMEPAR apenas e não fornecem sem pagamentos na maioria das vezes) já passamos de Temperatura Média Anual de 17 graus (possível perto de 17.5 ou ligeiramente superior), mas ainda é a cidade com as mais baixas Temperaturas Médias do PR e no Horizonte, a estação de menor Temp. Media do estado, o critério para definir “a mais fria”, a Temp. Média Diária Mensal e Anual. Não adianta como a do INMT em General Carneiro ter as mínimas “oficiais” ou da mídia que escolhe (que perdem 80-90 % para as do Horizonte), se as suas temperaturas máximas diárias serem vários graus acima das de Palmas e se alguém quer comparar, fique na região com quase 1400 m do Horizonte, área entre Palmas, Gal Carneiro e Água Doce (SC) e compare com a cidade do General, como a de Palmas, cujo nome do militar do Cerco da Lapa, nada ter a ver com a região, mas uma Colônia de imigrantes principalmente poloneses e ucranianos.
Claro que no município de General Carneiro tem bolsões muito frios, tais como temos em Palmas e nos vizinhos, sem medições e pelo tão baixo número de estações na região, somos profundamente pobres em dados e microclimas com grande variação entre eles.
JAFS – Pode ser afirmar qual localidade no município o frio é mais intenso?
Geraldo – As grandes baixadas nos Campos de Palmas, tanto no lado do PR (cerca de 40%) como de SC (60%), que foram divididos entre os dois estados em 20 de OUT de 1916 no “Acordo” de Fronteiras, após a Guerra do Contestado (1912-1916). Em temperatura Média diária, mensal, anual, a região mais fria do PR está entre as cabeceiras do rio Xopin (jamais Xopim, mas também é Chopin) perto da Fazenda do Sr. Zuzu Guimarães (herdeiros) e da antiga Estrada de Palmas, no caso á General Carneiro) e o trevo das BRs 153 e BR-PRC-280) com altitudes que tocam os 1390 m. Basta ver o número de dias com nevoeiros (condensação do vapor de água e assim de frio sempre) e nuvens baixas na região e quem não fecha as janelas quando passa por lá?
JAFS – Existem especialistas que se dedicam ao estudo, especialmente, do inverno?
Geraldo – Poucos e é o nosso caso, não a meteorologia (previsões, não sempre precisões) mas a climatologia, o estudo da atmosfera (os efeitos, causas consequências, dinâmicas, oscilações paleoclimas, mudanças nas correntes oceânicas que tanto afetam o clima mundial, vários etc.) e atrai mais quem adora e/ou pesquisa os hidrometeoros associados as fortes ondas de frio. Infelizmente, por nossa culpa, ainda falam que o Nevoeiro Congelante, origem, Nevoeiro Congelado, o produto, vulgo Sincelo que já tivemos no passado, é “neve que gruda”, que toda precipitação outono-invernal fora neve, é “chuva Congelada”, que para alguns o único termômetro certo são os relógios digitais de grandes dimensões (que são que nem nota de 3 Reais, dão ideia, mas nada oficiais ou de padrões, com matérias que aquecem de formas distintas, imprecisos descartados sempre, etc.), que a “geada cai”, etc.
Exagerando, desculpe-me, mas precisamos conhecer um pouco mais a atmosfera, a vida e peço profundas desculpas a quem se incomodar com isso, mas você vendo gelo na asa do avião da Voepass, avisaria imediatamente ao piloto, que nesse caso tem escasso tempo (baixar rapidamente) para tomar decisões, caso não tenha equipamentos para o degelo? É sempre de alto risco várias formas de gelo (sem degelo por equipamentos após alertas) nas asas quando o avião, que perde sustentação, engorda em massa e não voa, simplesmente cai como uma rocha. Tristeza profunda.
Nessa onda de frio extremo para nós, severos com duros danos as plantas, diversos cultivos, aos mais vulneráveis, desprovidos, quem é que fala, escreve sobre a vida silvestre, que sofrem terrivelmente, como as nossas criações, animais doentes, pássaros que simplesmente morrem, etc. e é como se não existissem.
JAFS – Na sua opinião, qual medidas deveriam ser tomadas pelo Poder Público para que na estação do inverno, a cidade fosse mais visitada?
Geraldo – Sofremos de um mal crônico: sempre estamos a espera que alguém de fora faça algo, que mostre o que temos de grandes riquezas naturais, as nossas singularidades, nossas distintas culturas, variações climáticas, culturais, gastronômicas, as belezas extraordinárias de nossos pores-do-sol, etc. E que orgulho imenso não tivemos (todas, todos) que assistiram aos dois episódios do PLUG sobre Palmas. Não fazemos a nossa parte. Não compramos estações automáticas que podem ser doadas ao INMET, com custo inferior a 5 mil Reais, para tanto retorno, exceto o brilhantismo dos amigos Ivanir Dalanhol e de Goiás/ MG, Rodrigo Ataíde, que cederam as estações, as custas deles as instalações, ao Sr. Cléo, que permitiu a instalação no Rocio, depois o Ivanir comprou a Davis/Agrodala, atos extraordinários e de igual generosidade, que vamos sempre ficar devendo em agradecimentos.
Então, nessa pergunta acho que há muita gente com excelentes sugestões na cidade de Palmas e eu apenas coloquei algo.
Em dia como esse alguém com os diversos drones que temos, divulgou na grande mídia as suas imagens? Sofremos de várias inércias e depois reclamamos. Façamos nossa parte e vai aqui uma frase que alguns atribuem ao Dalai Lama, mas é de culturas africanas do W do continente: “Se você, por ser pequeno, acha que não faz a diferença na vida, tente dormir com um pernilongo”.
Perdoem-me, há raras pessoas como o amigo que muito fez para a segunda estação do SIMEPAR no município, mas vejo o poder público de Palmas muito ausente e não apenas nessa administração, não aponto nomes, mas em praticamente todas, em esforços que busquem a integração dessas duas novas estações junto ao INMET e outras no futuro, pois já estão sendo usadas no planeta para a grande rede de estações em que os modelos diários, semanais, mensais, são usados.
Temos que deixar de lado velha e insensatas questões como: “quem é a mais fria”, para temas como: que diversidade climática tem os seus microclimas e como isso se refletiu no ambiente natural, na ocupação luso-brasileira dos Campos e Matas de Palmas, de sermos a região considerando os Campos Naturais ou Sulinos de Palmas (PR e SC) um dos maiores sistemas de recargas hídricas do Brasil, com nascentes dos maiores afluentes do rio Iguaçu, que é o Xopin e do Uruguai, que é o Xapecó. Além do Chapecózinho, Iranin, Jangada, Iratin e tantos outros. Há maior riqueza (também tão vulnerável) que a água? Quanto cada propriedade rural recebe por suas nascentes, conservação das matas, da vida natural (e de todos a sociedade tanto depende) recebem de royalties? Acertaram: zero centavos! Quem pode mudar isso? Nós. Mas antes precisamos lutar com nossas inércias.
Outra, olhamos no Brasil com enorme interesse apenas para a Menor Temperatura registrada. Em 2024, para as estações de Palmas, tivemos dias com Temperaturas Máximas Diárias de 3.5 grau no Horizonte, 5.5 graus na cidade e em alguns morros de SC, acreditem, tenho os números, dados, registros, Temp. Máxima Diária Média de 0.9 grau !. Que seriam de “congelar” 99.9% os habitantes da antiga Cidade Maravilhosa. Foi divulgado, conhecido, admirado? Claro que não!
JAFS – Para este inverno, ainda aguarda-se uma outra frente fria mais intensa?
Geraldo – Essa é uma pergunta que a meteorologia pode responder e é possível. Segundo os modelos, fora de minha área, vamos nos próximos dias do quase forno ao freezer num mesmo dia, típicos da chegada da primavera. Ou de muitos casacos com aromas de armários naftalinas, para camisetas de mangas curtas e precisando de desodorantes.
Mas historicamente os meses mais severos em termos de frio em Palmas e na região, são AGO e JUL, sendo entre 19, 20 e 21 de AGO de 1965 a nevasca (termo aqui correto) com locais de acumulação (espessura) de mais de 1 m da mesma e mínima no dia seguinte do degelo de -9 graus, em um topo, não numa baixada, que foi vários graus menor, como na dita “Baixada de Palmas”, vizinha e em 17 e 18 JUL de 1975, outra neve, espessura média de 1015 cm na cidade, mas com mínima menor até hoje no PR em estação do INMET atrás do Colégio D. Carlos, com -11.5 graus.
Temos registros climatológicos em Palmas desde DEZ de 1922 até princípios de 1970 (INMET). Depois, 1979 (IAPAR) e SIMEPAR década de 1990 creio, até o presente. Fomos uma das primeiras cidades da Região Sul a ter uma estação convencional do INMET, fora outra mais antiga e de curta duração (1887/1888) (Centro Astronômico Nacional com sede na capital, RJ).
Muitíssimo obrigado pela oportunidade, atenção pela paciência, tempo e generosidade de quem conseguir ler isso.
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