Estudo revela desigualdade no endividamento e quitação de dívidas entre mulheres e homens

Estudo revela desigualdade no endividamento e quitação de dívidas entre mulheres e homens
Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Arquivo
Compartilhar
erinéia

Únicas responsáveis por muitas famílias de baixa renda, as mulheres lidam com índices maiores de endividamento do que os homens no Brasil. Levantamentos realizados pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) e pela Serasa mostram o impacto das dívidas para o público feminino.

De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada recentemente pela CNC, mesmo com a redução da diferença entre os gêneros em relação a 2024, o percentual de mulheres endividadas (76,9%) em fevereiro de 2023 ainda superava o dos homens (76%). Em fevereiro de 2022, essa diferença era de 1,6 ponto percentual, com 78,8% das mulheres contra 77,2% dos homens.

“Historicamente e até hoje, existe uma diferença salarial entre homens e mulheres. Isso vem diminuindo ao longo do tempo, e tem todo um processo de maior independência feminina no mercado de trabalho e dentro da estrutura familiar. Antigamente, a diferença era ainda maior, e elas dependiam muito mais do cônjuge ou de algum outro familiar. Então, o endividamento é maior porque aquela pessoa precisa de mais crédito, já que ela tem menos renda para conseguir lidar com seu dia a dia e sua vida”, explicou Felipe Tavares, economista-chefe da CNC.

Merula Borges, especialista em finanças da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), também destacou as dificuldades enfrentadas pelas mulheres em acessar crédito. “A gente percebe, no empreendedorismo feminino, que as mulheres têm mais dificuldade de tomar crédito. Elas empreendem, de maneira informal, com mais frequência”, explicou. “Elas usam a informalidade como uma forma de subsistência”.

Esses desafios são amplificados pelo fato de muitas mulheres precisarem arcar sozinhas com as despesas familiares. Segundo uma pesquisa da Serasa divulgada neste mês, 93% das mulheres participavam financeiramente das despesas familiares, e em 33% dos lares, elas eram as únicas responsáveis. Entre as faixas de renda mais baixa (classes D e E), o percentual sobe para 43%.

Além disso, 90% das mulheres entrevistadas afirmaram precisar conciliar o trabalho remunerado com as tarefas domésticas. “As mulheres seguram a casa sozinhas, têm dupla jornada. Além disso, com todas as despesas que têm no dia a dia, para sustentar uma casa e os filhos. Mesmo assim, elas se preocupam em não ficar com valores em aberto, de não ficar com dívidas, até para não ter dificuldade em solicitar crédito”, afirmou Tamires Castro, especialista da Serasa.

A pesquisa da Serasa também revelou que 40% das mulheres priorizam o pagamento de dívidas ao organizar o orçamento familiar e que elas fecham 25% mais acordos para quitar débitos no Feirão Serasa Limpa Nome do que os homens. “Mesmo antes, quando tinham menos independência [financeira], elas já tinham um papel muito ativo na gestão do orçamento familiar. Quando a gente vê esse aumento da renda e da independência, a administração financeira tende a ser melhor nos orçamentos geridos por mulheres”, analisou Felipe Tavares.

Entre as dificuldades financeiras apontadas, obter crédito (47%) e lidar com o endividamento (31%) aparecem como os principais desafios. Oito em cada dez mulheres (85%) já tiveram algum pedido de crédito negado. Nos 12 meses anteriores à pesquisa, as mulheres que buscaram crédito majoritariamente utilizaram o recurso para despesas inesperadas (26%) e pagar dívidas de cartão de crédito (22%).

Felipe Tavares destacou que, embora o tema dívida seja delicado, nem todas as dívidas são prejudiciais. “Ter dívidas não é algo ruim. Ter dívidas ruins é algo ruim. Se você fizer uma dívida consciente, com boas taxas, boas condições, que caiba no seu orçamento, aquilo vai ser muito benéfico para sua vida. O crédito não é problema, o problema é você gerir bem o orçamento. Então, a dica é que se preste muita atenção se a taxa de juros é pós-fixada, se ela está indexada a algum indicador de inflação, se tem algum seguro embutido ali, algum serviço embutido na dívida que pode ser tirado para ficar mais barato.”

Tamires Castro reforçou a importância do controle orçamentário para evitar dificuldades futuras. “A gente precisa ter clareza de tudo que a gente ganha e de tudo o que a gente gasta. Tem que entender o que é de fato aquilo que entra e aquilo que a gente tem de despesas fixas que não pode negociar, que a gente tem que pagar. E, como há uma preocupação das mulheres em negociar dívidas, é importante identificar descontos para conseguir pagar as dívidas com esses descontos.”

Além disso, Merula Borges ofereceu um alerta sobre o uso de cartões de crédito. “A gente vê muitos bancos oferecendo o cartão de crédito como opção para acúmulo de milhas e benefícios. Isso é, em certa medida, verdade, mas é preciso ter um cuidado. A tentação é maior nesse caso, porque não tem aquela dor imediata de ficar sem o dinheiro, consegue-se parcelar, e a dificuldade de controle é maior.”

Imagem de destaque - TV A Folha
Anuncio