De escolas problemáticas a ambientes acolhedores com excelentes indicadores de desempenho: o modelo de colégios cívico-militares no Paraná tem se destacado, com notas acima da média estadual e grande procura de famílias por matrículas.
Um exemplo é o Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay, localizado no bairro Tatuquara, em Curitiba. A instituição, que já enfrentou altos índices de violência no passado, viu sua realidade mudar radicalmente após a implantação do modelo cívico-militar. “No passado, a nossa escola chegou a ser notícia por ter muitos casos de violência e por estar frequentemente depredada. Mas tudo mudou de uns anos para cá, desde a mudança para o modelo cívico-militar. Hoje ela é um farol para a comunidade”, afirma o diretor Sandro Mira Júnior.
Esse é um dos 312 colégios estaduais que adotaram o modelo no Paraná, o maior número do país. Nesse formato, monitores militares atuam em parceria com as equipes pedagógicas, promovendo valores como respeito e cidadania. “Era muito diferente. Quando eu estudei aqui, praticamente não tinha aula e era muito violento. Hoje, pelo contrário, eu fico muito tranquila em deixar meu filho em um lugar que eu sei que é seguro e que tem compromisso com a educação dele”, relata Sandy Alvez de Paula, ex-aluna do colégio e mãe de um estudante matriculado atualmente.
O impacto positivo também se reflete nos indicadores de desempenho. Segundo a Secretaria de Educação, em 2023, o Ideb dos colégios cívico-militares foi de 5,43 nos anos finais do ensino fundamental e de 4,75 no ensino médio, superando a média da rede estadual, de 5,3 e 4,63, respectivamente. “Até 2019, a gente nem tinha nota no Ideb, porque os alunos não apareciam para a avaliação. De 2021 para 2023, a gente não só conseguiu ter uma nota, como melhorou nossos índices, chegando à melhor nota da nossa região para o ensino médio e a segunda melhor no ensino fundamental”, celebra o diretor Sandro Mira Júnior.
O Paraná lidera o Ideb nacionalmente desde 2021 e conseguiu melhorar ainda mais seus resultados em 2023. O desempenho das escolas cívico-militares foi determinante para essa conquista: 64% das instituições do modelo elevaram suas notas no ensino médio, enquanto 66% tiveram melhora nos anos finais do ensino fundamental. “Os colégios do modelo cívico-militar são um grande acerto porque têm apresentado resultados expressivos e contam com muito engajamento das comunidades. É uma transformação”, destaca o governador Carlos Massa Ratinho Junior.
Esse progresso trouxe mudanças significativas na procura por vagas. O Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay, que antes do modelo cívico-militar matriculava cerca de 600 alunos, agora atende 1,9 mil estudantes e tem 350 na fila de espera. Gabrielly Aleixo, aluna do 3º ano do ensino médio, conta que sua família preferia escolas mais distantes devido à má reputação da instituição. “Eu só vim para cá porque virou cívico-militar. Se isso não tivesse acontecido, eu ainda estaria em outra escola mais distante”, relata.
No total, os colégios cívico-militares do Paraná atendem 191 mil estudantes e possuem 11 mil crianças e adolescentes na fila de espera. Os critérios de seleção são os mesmos das outras escolas estaduais, como distância de casa até o colégio e a presença de irmãos matriculados. “Todo mundo da região quer ir para a escola cívico-militar. Todo mundo da comunidade, e até de bairros vizinhos, quer que seus filhos estudem lá”, comenta a líder comunitária Vânia Maria Gregorovicz.
O modelo cívico-militar foi implementado no estado em 2021, após aprovação da comunidade escolar por meio de consulta pública. Ebanessa Sabim, mãe de um aluno do Colégio Estadual Cívico-Militar Primeiro Centenário, em Campo Largo, votou a favor da mudança e se diz satisfeita. “Eu não tive dúvida nenhuma. E estou muito satisfeita, porque foi uma mudança radical para melhor”, ressalta ela.
Com a mudança, cada escola passa a contar com um policial militar da reserva para atuar na parte disciplinar, além de realizar atividades cívicas, como hasteamento da bandeira e execução de hinos. Os alunos também recebem prêmios e certificados pelo bom desempenho escolar e disciplinar. Gisele Grossman, mãe de uma aluna do Colégio Primeiro Centenário, conta que sua filha inicialmente ficou receosa com as mudanças, mas rapidamente se adaptou e foi premiada por tirar nota máxima em três trimestres consecutivos. “Ela sempre foi estudiosa e dedicada. É muito bom ela estar em um ambiente que valoriza este comportamento”, comemora.
O Colégio Primeiro Centenário se tornou exemplo em Campo Largo, com famílias chegando na madrugada para conseguir uma vaga. “Quando abrem as matrículas, tem gente fazendo fila na porta da escola desde as 4 horas da manhã”, relata a diretora Roselaine Lachovistz. O sucesso do modelo incentivou outras três escolas de Campo Largo e uma de Balsa Nova a aderirem ao sistema após consultas realizadas em 2023.
“É um orgulho ver que a nossa escola é um modelo para outras. Essa é uma conquista nossa também, do nosso esforço e da nossa disciplina”, destaca Millena Ramos, aluna de 14 anos do Colégio Primeiro Centenário. A transformação das escolas cívico-militares segue impactando positivamente comunidades inteiras no Paraná.