Há tempos venho refletindo sobre tudo o que preciso dizer. E talvez este seja o momento.
Vivemos em uma era onde tentamos decifrar os outros, enquanto fugimos desesperadamente de entender a nós mesmos. Queremos respostas para o mundo, mas evitamos encarar o espelho.
Se você não souber se comunicar com sua própria criança, o mundo se encarregará de fazer isso por você. E, acredite, ele não terá piedade. Um dia, seu filho estará diante de você, mas sua mente e seu coração pertencerão a outro lugar—às ruas, aos “rolês”, às garrafas, às substâncias que você nem imagina. O vocabulário será repleto de gírias, as músicas uma trilha sonora de apologia ao caos. E então, você se perguntará: onde foi que eu errei?
O trabalho virou “jobb” , e a nova ambição é a ostentação digital. Adolescentes expõem seus corpos e suas vidas na internet em troca de status, grifes e seguidores. Para quê trabalhar duro, se em poucas horas podem ganhar fortunas?
E os caminhos são diversos: política, jogos de aposta, prostituição, crime organizado. Dinheiro rápido, valores descartáveis. E a política? Essa nunca cai de vez. Derruba alguns agora, outros amanhã, mas segue firme, inabalável.
E os relacionamentos? Ainda existem?
Casais com filhos lindos, traindo como se a fidelidade fosse um conceito ultrapassado. A vergonha se perdeu. Os valores, apagados.
Então, tatuagens.
Uma rosa no braço? Um trauma, um desejo reprimido, algo inacabado. Ou repetido tantas vezes que já perdeu o sentido. Tanto faz.
E o que fazer com a tristeza?
Homens. Mulheres. Beijos sem nome, noites sem memória. O importante é anestesiar, entorpecer, esquecer.
Família?
Visito de vez em quando. Estão bem… É o suficiente.
Conversar?
Prefiro meus fones de ouvido.
Saúde?
Academia. Alguns agachamentos e pronto, estou saudável. Entendeu?
E a infância?
Essa já não existe. Aos 10, desobediência. Aos 12, álcool. Aos 15, filhos. Aos 16, a criação terceirizada para os avós.
O que estou dizendo não é ficção. Não é um roteiro de filme distópico. Está acontecendo agora. Com você. Com quem está ao seu lado.
Está em todos os lugares. Basta olhar.