Câncer de testículo: jovens entre 20 e 39 anos são 60% das mortes causadas pela doença no Brasil

Câncer de testículo: jovens entre 20 e 39 anos são 60% das mortes causadas pela doença no Brasil
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A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) organiza a campanha Abril Lilás para conscientizar sobre o câncer de testículo, que afeta principalmente homens entre 15 e 40 anos. Dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Ministério da Saúde mostram que, entre 2014 e 2023, ocorreram 4.000 mortes em decorrência da doença. Além disso, de 2015 a 2024, foram realizadas 47 mil cirurgias relacionadas ao câncer de testículo.

“O principal sinal de alerta é o aparecimento de um nódulo ou aumento no volume de um dos testículos, geralmente indolor”, explica André Salazar, urologista supervisor da Disciplina de Câncer de Testículo da Sociedade Brasileira de Urologia. Ele também menciona outros sintomas como sensação de peso no escroto, desconforto na região inferior do abdômen ou dor, além de dor lombar e aumento das mamas em casos mais avançados.

Entre 2014 e 2023, 60% das mortes pela doença ocorreram entre homens de 20 a 39 anos, totalizando 2.444 óbitos. Nesse grupo, 1.327 mortes foram registradas entre homens de 20 a 29 anos e 1.117 entre aqueles de 30 a 39 anos. Outras faixas etárias com números significativos incluem 40 a 49 anos (490 óbitos) e 50 a 59 anos (285 óbitos). Esses dados evidenciam que os jovens adultos são os mais afetados.

“Apesar de o câncer de testículo ser altamente curável, com taxas de cura acima de 90%, ele pode levar a óbito, especialmente quando diagnosticado tardiamente”, relata Salazar. Ele destaca que muitos homens jovens ignoram os sinais iniciais por desconhecimento, vergonha ou medo. “É essencial quebrar o tabu sobre a saúde masculina e incentivar a conscientização”, reforça.

O autoexame testicular é uma estratégia importante para detectar alterações precocemente. “O ideal é realizá-lo mensalmente, de preferência após o banho quente, quando a pele do escroto está mais relaxada. É uma forma simples e eficaz de identificar possíveis alterações”, orienta Salazar. O urologista recomenda que, ao notar qualquer sinal como um caroço no testículo, o homem procure um médico imediatamente.

Além do autoexame, exames clínicos e complementares são fundamentais para o diagnóstico. Maurício Cordeiro, coordenador do Departamento de Uro-oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia, explica que o ultrassom Doppler é usado para detectar nódulos e avaliar sua vascularização. Também são realizados exames laboratoriais envolvendo marcadores tumorais como a alfafetoproteína (AFP), associada a tumores não seminomatosos; a gonadotrofina coriônica humana (BHCG), que sinaliza carcinomas embrionários; e a desidrogenase lática (DHL), cujos níveis elevados podem indicar doença avançada.

“Embora não existam recomendações precisas sobre a frequência do autoexame, sugere-se que ele seja feito mensalmente, para que o homem conheça sua anatomia e identifique alterações”, complementa Cordeiro.

O tratamento do câncer de testículo pode incluir cirurgia, quimioterapia e radioterapia, que podem afetar a fertilidade masculina. O especialista recomenda a preservação da fertilidade antes do início do tratamento. “A opção mais comum é o congelamento de sêmen em bancos de esperma, um procedimento seguro que permite ao paciente planejar filhos no futuro”, explica.

Os estados mais afetados pela mortalidade por câncer de testículo entre 2014 e 2023 foram São Paulo (1.113 óbitos), Rio Grande do Sul (454), Minas Gerais (374), Paraná (365), Rio de Janeiro (335), Bahia (153), Pernambuco (108) e Ceará (105), com São Paulo liderando os números absolutos de mortes no período.

Outra abordagem utilizada em casos específicos é a linfadenectomia retroperitoneal robótica, uma técnica minimamente invasiva para remoção de gânglios linfáticos na região abdominal. “Ela oferece recuperação mais rápida, cicatrizes reduzidas e menor impacto na função sexual do paciente”, observa Cordeiro. Essa modalidade tem sido valorizada por suas vantagens em tratamentos específicos.

Imagem de destaque - TV A Folha